segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Uma história com flores (a aventura continua)

O Gladíolo achou aquelas flores pouco atraentes. Tinham pétalas pequenas e brancas muito abertas e um botão amarelo no meio! Pensando bem… não tinham muita graça aquelas flores, não senhor!
Os Malmequeres, ao descobrirem as Papoilas, ergueram-se um pouco mais e sorriram: as suas amigas vinham, certamente, fazer-lhes uma visita.
- Olá, há quanto tempo! – exclamaram os Malmequeres com voz melodiosa e doce.
- Viemos para vos apresentar um amigo. É o Gladíolo, ele anda a viajar e quer conhecer todas as flores do mundo! – disseram as Papoilas, abanando os seus vestidos rodados.
O Gladíolo já estava a ficar desanimado: ele queria conhecer flores bonitas e perfumadas, flores mais bonitas e mais perfumadas do que as do jardim das mil flores e até agora só conhecera flores sem graça, sem perfume e sem classe.
Um dos Malmequeres do campo, como que adivinhando o pensamento do novo amigo, disse:
- As flores do campo são muito simples, não usam vestidos de tecidos raros e caros nem coroas. Os nossos vestidos e saias são geralmente de chita, de tecidos baratos, mas confortáveis. Lembra-te que ninguém nos colhe para ornamentar jarras, jarrões ou para fazer arranjos florais. O Gladíolo olhava as flores do campo muito espantado. Ele não sabia que havia flores que não serviam para enfeitar as salas, as casas, os jardins. Tudo aquilo era novo para ele. Para que serviam elas afinal?
Mais uma vez, o Malmequer pareceu adivinhar o seu pensamento e disse muito alegre e confiante:
- Nós enfeitamos espaços maiores, campos inteiros, grandes campos de trigo, de centeio, de aveia… - e acrescentou – nunca viste um campo de girassóis?
- Não. Nunca ouvi falar em tais flores. Como são? Onde vivem? Para que servem? – perguntava o Gladíolo, muito interessado.
- Se quiseres, nós vamos contigo. Levar-te-emos até ao maior campo de girassóis que conhecemos – disse um Malmequer muito franzino e encolhido.
E lá foram eles: os Malmequeres à frente, a seguir o Gladíolo muito direito e arrumadinho e atrás as Papoilas que balançavam as suas saias ao vento. As árvores, os pássaros, as borboletas, as abelhas, todos olhavam aquela fila de flores que seguia em frente sem olhar para nada nem para ninguém.
As flores iam muito felizes e animadas, conversando sobre as suas experiências: o Gladíolo falava do jardim das mil flores, das tulipas de todas as cores, das rosas perfumadas, dos cravos coloridos, das orquídeas exóticas, de todos os seus amigos; descrevia o grande jardim rodeado de muros altos, o fresco e largo lago de águas cristalinas, as árvores frondosas e altas, as belas plantas verdes, as estátuas de bronze que o enfeitavam, o grande e velho portão verde. As Papoilas e os Malmequeres estavam encantados com o mundo encantado do seu novo amigo e não se cansavam de dizer:
- Deve ser lindo o teu jardim!
E tinham pena de não terem nada assim tão lindo para contarem. As Papoilas falaram sobre a brisa fresca do vento, sobre o orvalho das manhãs, sobre o calor do sol, sobre o trigo loiro que vivia com elas e sobre o “dia da espiga”. Os Malmequeres ficaram tristes, porque achavam que não tinham nada de belo para contar. Gostariam de ter coisas extraordinárias para dizer, mas tinham uma existência pobre, sem festas, sem passeios, sem jardins, sem campos de trigo para enfeitar…

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