domingo, 18 de abril de 2010

Oceano Nox


Oceano Nox

Junto do mar, que erguia gravemente
A trágica voz rouca, enquanto o vento
Passava como o voo do pensamento
Que busca e hesita, inquieto e intermitente,

Junto do mar sentei-me tristemente,
Olhando o céu pesado e nevoento,
E interroguei, cismando, esse lamento
Que saía das coisas, vagamente...

Que inquieto desejo vos tortura,
Seres elementares, força obscura?
Em volta de que ideia gravitais?

Mas na imensa extensão, onde se esconde
O Inconsciente imortal, só me responde
Um bramido, um queixume, e nada mais...

Antero de Quental


Aqui ficam mais umas fotos da minha praia!



A lírica camoniana


A separação da mulher amada


A fermosura desta fresca serra
E a sombra dos verdes castanheiros,
O manso caminhar destes ribeiros,
Donde toda a tristeza se desterra;

O rouco som do mar, a estranha terra,
O esconder do sol pelos outeiros,
O recolher dos gados derradeiros,
Das nuvens pelo ar a branda guerra;

Enfim, tudo o que a rara Natureza
Com tanta variedade nos of'rece,
Me está, senão te vejo, magoando.

Sem ti, tudo me enjoa e me aborrece;
Sem ti, perpetuamente estou passando
Nas mores alegrias mor tristeza.

Luís Vaz de Camões


Breves apontamentos

As qualidades dos vários elementos da Natureza mencionados no soneto "A fermosura desta fresca serra" são realçadas através de adjectivos e nomes:

Elementos da natureza
serra = fresca (adjectivo); fermosura (nome)
castanheiros = verdes (adj.); sombra (nome)
ribeiros = manso (adj.); caminhar (nome)
mar = rouco (adj.); som (nome)
terra = estranha (adj.)
sol = esconder (nome)
gados = derradeiros (adj.); recolher (nome)
nuvens = branda (adj.); guerra (nome)


"O manso caminhar destes ribeiros"
"O esconder do sol pelos outeiros"
"O recolher dos gados derradeiros"

As palavras sublinhadas ocorrem geralmente como infinitivos verbais, mas aqui foram transformadas em nomes. A este processo de formação de palavras dá-se o nome de derivação imprópria uma vez que uma nova palavra é obtida apenas por alteração da classe gramatical da palavra primitiva.


A caracterização da Natureza é feita através da apresentação de uma sequência de elementos que a constituem. Este processo, que resulta na acumulação desses elementos, corresponde uma enumeração.

Após uma leitura atenta do poema, nós podemos considerar que a apresentação da natureza tende para a personificação.

A personificação consiste em atribuir propriedades humanas a animais ou a seres inanimados, em contrapartida , o animismo consiste em atribuir movimento não humano a seres inanimados, isto é, atribui propriedades animadas, mas não especificamente humanas, a entidades inanimadas.


Os dois versos do soneto que correspondem à síntese das características da natureza referidas anteriormente são: "Enfim, tudo o que a rara Natureza / Com tanta variedade nos of'rece,". É o advérbio ("Enfim") que introduz a síntese, trata-se de um conector discursivo com valor conclusivo.


No soneto "A fermosura desta fresca serra", a visão da natureza e o estado de espírito do sujeito poético alteram-se: os elementos da natureza referidos na primeira quadra sugerem uma harmonia inicial (total) que progressivamente se vai quebrar (na segunda quadra a harmonia já só é aparente), antecipando o estado de espírito do sujeito lírico, uma tristeza profunda provocada pela ausência da mulher amada (desarmonia e tristeza nos dois tercetos).

Nas duas primeiras quadras, apesar de se descrever uma natureza harmoniosa, podemos interpretar a anástrofe - “Das nuvens pelo ar a branda guerra” - como um indício que antecipa a mudança de estado de espírito do sujeito.
A anástrofe - “Das nuvens pelo ar a branda guerra” - reflecte a desestabilização da linha de pensamento do sujeito, causada pela dor e desespero que o inquietam.
A anástrofe é uma figura de estilo que consiste na inversão da ordem natural das palavras (consistindo na antecipação do complemento determinativo antes do nome ou do complemento directo antes do verbo): “Das nuvens pelo ar a branda guerra” - a branda guerra das nuvens pelo ar.

Alguns recursos expressivos enfatizam a ausência da mulher amada que vai determinar o estado de alma do sujeito poético:
- A repetição anafórica “Sem ti (...)/Sem ti (...)” = imprime um ritmo ao discurso que tem como efeito intensificar a dor do sofrimento do sujeito perante a ausência da amada.
- O advérbio de modo “perpetuamente” = acentua a ideia de desespero contínuo, inalterável e ininterrupto.
- A aliteração das nasais "Me está, se não te vejo, magoando./ Sem ti, tudo me enoja e me aborrece;/ Sem ti, perpetuamente estou passando, / Nas mores alegrias mor tristeza." = resulta numa sonoridade que remete para um arrastamento da dor e que contribui para a criação de um estado de melancolia profunda.
- O uso da conjugação perifrástica “está(...)magoando / “estou passando” = traduz uma continuidade e prolongamento do estado de sofrimento,monotonia e desânimo.
- O discurso hiperbólico = enfatiza e amplifica a dor e o sofrimento do sujeito.
- A antítese “ Nas mores, alegrias mór tristeza.” = reflecte o dramatismo da situação causada pela ausência da mulher amada.

Porta-chaves


A Mena na cozinha

Pudim de papaia

450 g de polpa de papaia

2,5 dl de leite

100 g de margarina

4 ovos

150 g de açúcar

3 colheres de sobremesa de farinha maizena

Raspa de 1 limão

1 cálice de vinho moscatel de Setúbal (vinho do Porto ou da Madeira)

Açúcar para caramelizar a forma


Bata a margarina com o açúcar até ficar um creme fofo. Misture os ovos, a raspa de limão e a farinha e mexa bem. Adicione a polpa de papaia e finalmente o leite e o vinho moscatel. Deite este preparado numa forma caramelizada e leve ao forno a 220º, durante cerca de 35 minutos.

Delicie-se!

1 comentário:

Mona Lisa disse...

Olá Mena

As fotos estão espectaculares.

Não conhecia o poema de Antero de Quental.
Obrigada pela partilha.

Servi-me do pudim.
Delicioso!

Bjs.