quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sermão de Santo António aos peixes - Exposição - Confirmação

Sermão de Santo António aos Peixes

Exposição - Confirmação

Ao entrar na confirmação, começa o orador a desenvolver o tema, a argumentar.
Numa ironia velada, dirige-se aos peixes e fala-lhes das propriedades do sal e como é bom sentirem-nas, vivos: "E desta maneira satisfaremos as obrigações do sal, que melhor vos está ouvi-las vivos, que experimentá-las depois de mortos".
Continuando com a sua ironia sábia, Vieira explica-lhes como se vai processar a conversa. Primeiro falará das suas virtudes, depois dos seus vícios. As virtudes são muitas e foram logo privilegiadas por Deus:
"A vós criou primeiro que as aves do ar, a vós primeiro que os animais da terra e a vós primeiro que ao mesmo homem." (Atenção à anáfora: "A vós... a vós...")
Convida então os peixes a ouvir as suas virtudes, pois não foram eles que ouviram as palavras de Deus da boca de Santo António? E de novo, numa certa ironia crítica os homens, numa contradição insólita:
"Oh, grande louvor verdadeiramente para os peixes, e grande afronta e confusão para os homens! Os homens perseguindo a António, querendo-o lançar da terra e ainda do Mundo, se pudessem, porque lhes repreendia os seus vícios, porque não lhes queria falar à vontade e condescender com seus erros, e no mesmo tempo os peixes em inumerável concurso acudindo a sua voz (...) escutando com silêncio e com sinais de admiração e assenso (como se tiveram entendimento) o que não entendiam."
Vieira animaliza os homens e humaniza os peixes - O orador prossegue na sua crítica aos homens, "poderia cuidar que os peixes irracionais se tinham convertido em homens, e os homens não em peixes, mas em feras", concluindo paradoxalmente, num discurso dialéctico e bem contraditório: "neste caso os homens tinham razão sem uso, e os peixes o uso sem razão."
Recorre o pregador aos doutores da igreja para argumentar e confirmar a sua ideia sobre os peixes. Quem poderá contestar a palavra de Aristóteles que já dizia que "só eles em todos os animais, se não domam nem domesticam"?
Repare-se na colocação dos verbos no final do período, à maneira da frase latina.
Num apelo quase intimista, padre António Vieira aconselha os peixes a ficarem longe dos homens, "Quanto mais longe dos homens, tanto melhor". E continua, numa crítica aos homens sem par: "trato e familiaridade com eles, Deus nos livre!"
A sátira aos homens, como seres perigosos continua, agora pela boca de um filósofo que, ao perguntarem-lhe qual era a melhor terra do mundo, ele responderia: "a mais deserta, porque tinha os homens mais longe."
O próprio Santo António fugiu deles, "quanto mais buscava a Deus, tanto mais fugia dos homens, acabando a sua vida em outro ermo deserto, tanto mais unido com Deus, quanto mais apartado dos homens."
Vai o pregador lembrar e louvar as virtudes de alguns peixes em particular, da rémora, um peixe tão pequeno e tanta força ele tem, "se pega ao leme de uma nau da Índia, apesar das velas e dos ventos, e de seu próprio peso e grandeza, a prende e amarra mais que as âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante?"
Numa analogia surpreendente, o pregador passa para o mundo dos homens. Que tom seria que houvesse assim uma rémora, na terra, tantos perigos se poderiam evitar: "Oh se houvera uma rémora na terra, que tivesse tanta força como a do mar, que menos perigos haveria na vida e que menos naufrágios no Mundo!"
Só a língua de Santo António lhe pode ser comparada e recorre a São Gregório para confirmar a sua ideia: "Língua quidem parava est, sed viribus omnia vincit."
O apóstolo Santiago compara "a língua ao leme da nau e ao freio do cavalo"; a língua de António, segundo o nosso pregador, tinha "força e virtude" para "domar e parar a fúria das paixões humanas."
Já que fala de peixes mais pequenos, como esquecer Vieira o torpedo, que faz tremer o braço. Através desta alegoria, desliza o orador para o mundo dos homens, como seria bom que "esta qualidade tremente". Repare-se na criatividade desta expressão, acontecesse com os pescadores da terra. O que mais intriga o nosso pregador "é que pesquem tanto e que tremam tão pouco"; de novo a antinomia, a antítese, acrescentando à laia de remate, numa frase paralelística, quase elíptica, em jeito de responsório: "Tanto pescar e tão pouco tremer" (atenção à força dos infinitivos).
Vai depois o orador concluir o elogio das virtudes dos peixes, com um peixe singular, os quatro-olhos. Recorrendo a uma anadiplose, ele entra num certo malabarismo verbal, certamente para criar algum espanto e despertar a atenção dos ouvintes. Ah! Como eles têm sorte "os quatro-olhos"! Bem podem agradecer a Deus tal dádiva, nem às águias, que são os "Linces do ar", nem aos linces que são as águias da terra, deu Deus quatro olhos, concluindo ele o seu pensamento, relacionando este peixezinho com os homens aquele Deus lhe deu tantos olhos, como permite Ele então que haja tanta cegueira, naquelas terras vastíssimas:
"Tantos instrumentos de vista a um bichinho de mar, nas praias daquelas mesmas terras vastíssimas, onde permite Deus que estejam vivendo em cegueira tantos milhares de gentes há tantos séculos? Oh, quão altas e incompreensíveis são as razões de Deus. E quão profundo o abismo dos seus juízos!"
A crítica insinua-se por toda a topografia do texto. Como era bom que os homens tivessem assim quatro olhos. David queria tanto que os seus olhos não vissem a vaidade, pois, para qualquer lado que se virassem, no Mundo "tudo era vaidade."
Dirigindo-se de novo aos peixes, o pregador faz-lhes ver que são mais seguros, embora os astrólogos lhes reservassem só um lugar entre os signos celestes: "Um só lugar vos deram os astrólogos entre os signos celestes, mas os que só de vós se mantêm na terra, são os que têm mais seguros os lugares do Céu."
Um apelo aos peixes, Vieira faz, que nunca deixem de faltar aos pobres, pois assim terão "seguros os seus aumentos" e vai buscar o exemplo às irmãs sardinhas que são tantas porque Deus as multiplica. Já não têm essa sorte os salmões e os solhos, que vão à mesa dos ricos e dos poderosos:
"Os solhos e os salmões são muito contados, porque servem à mesa dos reis e dos poderosos; mas o peixe que sustenta a fome dos pobres de Cristo, o mesmo Cristo os multiplica e aumenta."

(Continua)

A Mena na cozinha


Batido de melão e coco

leite de coco
melão
gelo


Trabalhinhos: agendas

1 comentário:

Sonia Facion disse...

Olá Mena!!!

Como estás?

Por ca estamos bem com uma primavera mui gostosa.

Bjks

Sonia