sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sermão de Santo António aos peixes - confirmação II




Sermão de Santo António aos Peixes

Confirmação

Depois de louvar as virtudes dos peixes, Padre António Vieira repreende os seus vícios:
"A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros."
Como é possível isso acontecer se são da mesma Pátria, todos criados na água e sendo irmãos, "vivais de vos comer".
E vai dizer-lhes como o próprio Santo Agostinho mostrou esse escândalo que acontece nos homens, mostrando o que se revela nos peixes; numa analogia surpreendente e quase em ira, em repetições sucessivas e num visualismo bem apelativo (recorrendo ao verbo "olhar") convida os peixes a olhar para a terra. Não é para os matos que eles devem olhar, é para a cidade, é lá que o "açougue" é maior, pior do que no sertão:
"Olhai peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o sertão? Para cá, para cá; para a cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os tapuias se comem uns aos outros; muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os brancos."

Num discurso interpelativo, intimista, argumentativo e convincente e recorrendo à anáfora, repetição do verbo "ver" no princípio das frases, alerta os peixes para o frenesim que se apodera dos homens, sempre a tentarem explorar o outro:
"Vedes vós todo aquele bulir, vedes todo aquele andar, vedes aquele concorrer às praças e cruzar as ruas; vedes aquele subir e descer as calçadas, vedes aquele entrar e sair sem quietação nem sossego. Pois tudo aquilo é andarem buscando os homens como hão-de comer e como se hão-de comer."

Com várias espécies de peixe, padre António Vieira continua a construir várias alegorias, várias simbologias, criticando ferozmente vários tipos de colonos que martirizavam, exploravam os índios e se opunham à sua libertação. Chama a atenção para os hábitos e a vida dos peixes. Não se parecem eles com os homens, nos seus vícios, nas suas ambições, nos seus erros, na sua traição?:
"As cores que no camaleão são gala, no polvo são malícia... Se está nos limos faz-se verde; se está na areia faz-se branco... E daqui o que sucede? Sucede que o outro peixe, inocente da traição, vai passando desacautelado, e o salteador está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe os braços, de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais, porque não fez tanto. Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende".

A confirmação está implícita na censura à prepotência e domínio dos grandes, que como os peixes, vivem da exploração e do sacrifício dos mais pequenos.
O próprio Deus promete vingança. Ele próprio o afirma:
"Cuidais, diz Deus, que não há-de vir tempo em que conheçam e paguem o seu merecido aqueles que cometem a maldade?"

Nem é só comerem-se uns aos outros, o pior é que os grandes comem os pequenos: "Qui devorant plebem meam, ut cibum panis." Numa hipérbole devastadora, o pregador recorre às palavras de Deus. O pior é que os comem de qualquer modo "que os engolem e devoram". Confirma ele como se processa essa mortandade, essa crueldade, através de uma oração subordinada causal:
"porque os grandes que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, ou poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros: Qui devorant plebem meam".

Vieira interpela os peixes sobre isto, se eles acham bem? Com o movimento das cabeças, eles pasmam perante o que ouvem, pelo facto de haver assim tanta injustiça e maldade, mas faz-lhes compreender que é isso que eles fazem também. Os grandes comem cardumes inteiros:
"Pois isso mesmo é o que vós fazeis. Os maiores comeis os mais pequenos; e os muito grandes não só os comem um por um, senão os cardumes inteiros."

É numa crítica felina que o nosso orador avisará os peixes que serão também castigados, como Deus castiga os homens, não ouvem eles os remeiros queixarem-se daqueles que vão para o Brasil que em vez de governarem pensam só em enriquecer, "Os maiores que cá foram mandados, em vez de governar e aumentar o mesmo Estado, o destruíram; porque toda a fome de lá traziam, a fartavam em comer e devorar os pequenos."


Antropofagia: hábito de comer carne humana; canibalismo.
Antropofagia social: exploração do Homem pelo próprio Homem.

Padre António Vieira acusa os Homens através da primeira repreensão aos peixes: "Vós vos comeis uns aos outros". O seu objectivo é atingir os Homens que também se comem uns aos outros: Tapuias (antropofagia) / Brancos (antropofagia social) - exploram-se uns aos outros; (antropofagia do povo) - os maiores comem os mais pequenos.

Vieira denuncia um outro tipo de antropofagia através da citação latina: Qui devorant plebem meam, ut cibum panis (os que devoram o meu povo, como um pedaço de pão):
- Quem devora: "(...) os (...) que têm o mando das cidades e das províncias, não se contenta a sua fome de comer os pequenos um por um, ou poucos a poucos, senão que devoram e engolem os povos inteiros."
- Quem é devorado: "(...) são os mais pequenos, os que menos podem e os que menos avultam na república, estes são os comidos."
- Como é devorado: "(...) não como os outros comeres, senão como pão. A diferença que há entre o pão e os outros comeres, é que para a carne, há dias de carne, e para o peixe, dias de peixe, e para as frutas, diferentes meses no ano; porém o pão é comer de todos os dias, que sempre e continuadamente se come; e isto é o que padecem os pequenos."

Segunda repreensão:
Os peixes são facilmente enganados pela ignorância e pela cegueira, que não os deixa perceber que o pedaço de pano atado ao anzol é um isco e que se o morderem conduzi-los-á à morte.
Os homens cometem o mesmo engano, são iscados em Portugal pela vaidade de pertencer a uma Ordem, que funciona como um indicador de uma determinada posição na hierarquia social.
Quem pesca as vidas aos homens do Maranhão?
- O comerciante que vende tecidos vindos de Portugal.
Com o quê?
- Tecidos fora de moda e de má qualidade.
Como?
- Aumentando os preços dos tecidos, como se tivessem grande qualidade.
Quais são os homens desta terra que se deixam enganar?
- Os cegos pela vaidade.
Qual é a consequência?
- Endividam-se e todo o trabalho de um ano é levado.


A Mena na cozinha

Frango assado com limão

1 frango

sumo de 3 limões

sal

manteiga

pimenta

Corte o frango ao meio ou aos pedaços e coloque-o num pirex untado com manteiga. Tempere com o sumo de limão, sal e pimenta. Deixe de um dia para o outro. No dia seguinte, espalhe bocados de manteiga por cima do frango e leve-o a assar em forno quente durante 45 minutos. Desligue o forno e deixe ficar mais 10 minutos. Sirva o molho à parte.

Sirva com legumes cozidos.

Bom apetite!



Trabalhinho:

1 comentário:

Mona Lisa disse...

Olá Mena

Sigo atentamente a tua "aula" sobre o Sermão de Santo António aos Peixes.

Já é tarde para jantar, mas ouvi Beethoven enquanto apreciava os brincos.

Bjs.