quarta-feira, 9 de março de 2011

Os Lusíadas - Canto X


Depois de terem passado em "doces jogos" o dia quase todo, as "fermosas Ninfas" convergem para o palácio "co'os amantes pela mão", onde lhes será servido um lauto banquete à mistura com "risos doces, sutis e argutos ditos".
Uma delas, de nome Sirena, vai profetizar os altos feitos dos portugueses nas paragens do Oriente. Antes, porém, de iniciar o seu discurso, Camões, como de costume antes da narração histórica, invoca Calíope, a já referida musa inspiradora da poesia épica, pedindo-lhe que o auxilie a concluir o seu Poema, pois vai perdendo "o gosto de escrever" (est. 9).
Canta que "o grão Pacheco" desbaratará as forças do Samorim e será admirado de todo o Malabar: lugares, templos, casas e cidades, tudo há-de arrasar, mas, apesar de tantos serviços prestados à Pátria, terá o seu fim num pobre leito de hospital abandonado de seu Rei; que virão depois os dois Almeidas (D. Francisco e D. Lourenço de Almeida, seu filho) e castigarão Quíloa e incendiarão Mombaça; vaticina, seguidamente, ilustres façanhas de Tristão da Cunha, de Afonso de Alburquerue, de Lopo Soares de Albergaria, de Diogo de Sequeira, de D. Duarte de Meneses, de D. Pedro de Mascarenhas, de Lopo Vaz de Sampaio, de Nono da Cunha, de D. Garcia de Noronha, de D. Estêvão da Gama, de Martim Afonso de Sousa e de D. João de Castro e filhos.
Terminado o banquete, Tétis convida Vasco da Gama a contemplar a Máquina do Mundo desde o cume de um monte. Depois de descrevê-la, segundo o sistema de Ptolomeu, aponta nela a "Europa cristã", a África "inculta e toda cheia de bruteza"; prediz o naufrágio de Camões, "cuja lira sonorosa / será mais afamada que ditosa", na foz do rio Mecong; e distingue nela lugares em que os Portugueses conseguirão a imortalidade, desde as partes longínquas da China e do Japão até às terras de Santa Cruz (Brasil): "Podeis-vos embarcar, que tendes vento / E mar tranquilo, pera a pátria amada".
Foram estas as suas últimas palavras. E logo todos abandonaram a "Ilha alegre e namorada", com "refresco e nobre mantimento", na "companhia desejada / das Ninfas, que hão-de ter eternamente, / por mais tempo que o Sol o Mundo aquente" (est. 1-143)
Chegada a Portugal (est. 144):

Assi foram cortando o mar sereno,
Com vento sempre manso e nunca irado,
Até que houveram vista do terreno
Em que naceram, sempre desejado.
Entraram pela foz do Tejo ameno,
E à sua pátria e Rei temido e amado
O prémio e glória dão por que mandou,
E com títulos novos se ilustrou.


Lamentações do poeta

O Poema termina com palavras de desânimo, quanto ao seu destino infeliz:

Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho
Destemperada e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Dũa austera, apagada e vil tristeza.

Exortações ao Rei D. Sebastião
Depois pede a D. Sebastião que, na qualidade de "senhor só de vassalos excelentes", os favoreça com "leda humanidade"; os alivie de "rigorosas leis" e exalte "os mais exprimentados", porque "sabem / o como, o quando e onde as cousas cabem"; que estime os cavaleiros, os quais "com seu sangue intrépido e fervente / estendem não somente a lei de cima, / mas inda vosso Império preeminente"; faça com que jamais os Alemães, os Franceses, os Italianos e os Ingleses possam dizer que os Portugueses são mais "pera mandados que pera mandar" e prefira aos sábios os homens experimentados (est. 146-153).
E termina o Poema pondo-se incondicionalmente ao serviço do seu Rei, quer como soldado quer como cantor épico de feitos que aquele realizaria no futuro, embora, apesar do seu "honesto estudo", da sua "longa experiência" e do seu "engenho", continuasse sendo dele "não conhecido nem sonhado" (est. 154-156).

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