segunda-feira, 16 de maio de 2011

Os Maias - Estrutura actancial

29.




As personagens da intriga trágica, embora algumas delas possam potencialmente ser algo MODELADAS, como Carlos e Ega, dotados de uma certa profundidade psicológica revelada pelas suas frequentes atitudes inesperadas, a verdade é que o autor não se preocupou em explorar, pela introspecção, o íntimo dramático de nenhuma delas. Assim, poderia explorar o drama íntimo de Pedro ao ver-se abandonado por sua mulher, mas prefere pôr-lhe fim ao conflito interior pelo suicídio; poderia desenvolver o drama interior de Carlos e Maria Eduarda ao saberem-se irmãos, mas prefere fazê-los ir para o estrangeiro; poderia investigar o drama íntimo de Afonso (aliás, uma personagem potencialmente modelada), após ter conhecimento das relações incestuosas de seu neto e neta, mas fá-lo morrer imediatamente. Conclui-se, portanto, que mesmo as personagens da intriga trágica são dotadas de um certo esquematismo que as priva de profundidade psicológica - são, pois, personagens PLANAS.
Vejamos agora o papel de cada uma das personagens principais da intriga central, investigando a estrutura actancial d' Os Maias:

Sujeito - Carlos da Maia
Objecto - Maria Eduarda
Destinador - Guimarães
Destinatários - Carlos da Maia, Maria Eduarda e Afonso da Maia
Oponente - Afonso da Maia
Adjuvante - João da Ega

Todas estas personagens, com excepção de Afonso da Maia e, de certo modo, Maria Eduarda, além de serem personagens da intriga trágica, são também participantes nas cenas da vida romântica. Afonso da Maia é a única personagem que não acaba por se dissolver na comédia da vida. Para o conservar na mesma dignidade com que o conduziu ao longo da intriga, o autor preferiu dar-lhe a morte. Carlos e Ega surgem, no fim do romance, ao mesmo tempo críticos e criticados. É clara a intromissão de Ega no ambiente ridículo da comédia, quando foi escorraçado de casa do senhor Cohen por causa das relações adúlteras com Raquel Cohen. Já Carlos foi preservado por Eça, ao longo de toda a intriga trágica, de cair no ridículo. Nos dois primeiros casos de relações de amor boémio, foi Carlos que lhes pôs fim por razões humanitárias (caso da mulher do empregado do Governo Civil), ou por uma questão de honra (caso da espanhola Encarnacion). Enquanto Ega foi escorraçado da casa dos Cohen, Carlos foi ele que resolveu cortar as relações com a condessa de Gouvarinho. Enquanto fosse personagem de tragédia, Carlos teria de conservar pelo menos uma certa dignidade.
Só no último capítulo, depois do desfecho da intriga trágica é que Carlos se dissolve também claramente na comédia da vida (veja-se a sua corrida para apanhar o americano a fim de chegar a tempo a um jantar, ele e o Ega, ao mesmo tempo que assentavam que não valia a pena correr para nada...


30.




1 comentário:

Ismael Facion disse...

Mena, obrigado por visitar meu blog e aproveito para dizer que tem novidade no espaço.

Abs