quinta-feira, 14 de julho de 2011

Cesário Verde - O real na poesia


Lisboa é, no tempo de Cesário Verde, uma cidade de contrastes. E ele retrata-a, realçando a arquitectura antiga e os bairros modernos, onde se instala a nova burguesia.
É na captação do real que surge a outra face da realidade lisboeta: a dos trabalhadores que denunciam a sua origem campesina.
Ao vaguear (o célebre deambular), o sujeito poético denuncia o lado oposto ao da grandeza, focando os lugares pobres e nauseabundos, os humildes que sustentam a cidade. Ironicamente, foca as figuras intermédias, como o "criado" de "Um Bairro Moderno", ou os "caixeiros" de "O Sentimento dum Ocidental". Transfigurando o que vê, capta ainda aquelas personagens dúbias, como a "actrizita" de "Cristalizações", que, tal como a cidade, tentam esconder a sua condição.
Para Cesário, ver é perceber o que se esconde e, por isso, percepciona a cidade minuciosamente através dos sentidos. E o sujeito lírico resulta daquilo que vê.
Em Cesário Verde, raramente os interiores são retratados, porque o "eu" está em movimento, numa cidade cheia de homens autênticos, e a sua consciência acompanha essa evolução do espaço.


O impressionismo captado do real

A poesia do quotidiano despoetiza o acto poético, reflectindo a impressão que o exterior deixa no interior do poeta. Daí que se estabeleçam conexões entre esta poesia e a pintura impressionista: o artista pretende captar as impressões que as coisas lhe deixam, tal como Cesário faz.
Numa atitude anti-literária, o poeta projecta no exterior o seu interior, nascendo, assim, a poesia do real, que lhe permite rever-se nas coisas, de modo a atingir o equilíbrio. É esta atitude que leva Cesário a situar-se próximo do Impressionismo.


A poesia intervém criticamente

Perante as ideologias contraditórias que caracterizavam o tempo de Cesário, este escolhe a que representava uma transformação social mais rápida: o republicanismo.
Tal como Oliveira Martins, também Cesário conhece a "lei do mais forte", mas faz denúncias mais acutilantes, concluindo que o mais forte não é o rico, mas o pobre, o povo, com o qual se identifica, rejeitando a industrialização adoptada por Portugal e pela classe burguesa a que pertence. Compara o domínio das nações do Norte, relativamente ao desenvolvimento industrial, à supremacia exercida pela cidade sobre o campo.


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