sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Todo o burro come palha…



… é preciso é saber dar-lha.




Morávamos numa aldeia aqui perto, mesmo em frente à igreja matriz. A casa tinha um quintal minúsculo, habitado por algumas galinhas, uns quantos coelhos e uma ovelha. A igreja tinha um adro cheio de árvores e era o espaço das nossas brincadeiras e correrias.
O meu pai era alfaiate e sacristão na igreja, a minha mãe era costureira. Trabalhavam em casa e cuidavam de nós: três filhos, eu com cinco ou seis anos e dois irmãos, com quatro e dois anos.
Os animais do nosso quintal eram nossos amigos e companheiros de grandes brincadeiras e, por vezes, não entendíamos muito bem a ausência de um ou outro. À pergunta, onde está a Cremilde - surgiam as respostas sempre prontas e naturalíssimas da minha mãe - foi visitar a avó, foi visitar uns primos. Eu olhava desconfiada! Os meus irmãos ficavam satisfeitos com a explicação: afinal, íamos tantas vezes visitar os avós, os primos!
Mas, um dia, acabámos mais cedo a brincadeira no adro e corremos para casa, tínhamos outros amigos com quem brincar ali.
A minha mãe estava no quintalinho a esfolar o Joãozinho. E foi o fim do mundo! O meu irmãozito, de quatro anos, chorou, gritou, esperneou... O meu pai pegou em nós, muito chorosos, e levou-nos dali e explicou com toda a paciência do mundo que o Joãozinho tinha o fato todo sujo e que a minha mãe só estava a tirar-lho para o lavar, e que, logo, logo, o Joãozinho estaria de fato novo, todo bonito. Secaram-se as lágrimas, iluminaram-se os sorrisos nas carinhas dos pequenitos. Eu olhava descrente, mas mantinha-me calada.
Ao jantar, o meu irmãozito suspeitou que no seu prato jazia o malfadado do Joãozinho, rodeado de batatinhas douradas e de ervilhas e desatou num pranto nunca visto. Que não queria aquele comer, que queria "peixe-atum", que queria da comida do João de Oliveira, que aquilo não prestava... um cem número de lamentos bem regados com lágrimas e soluços...
O meu pai pegou, pacientemente, no prato, levou-o para a cozinha, surgindo, pouco depois, com um pratinho cheio de batatinhas, ervilhas e "peixe-atum" do melhor que há! Secou as lágrimas do rostinho mimoso do meu irmão e deu-lhe um beijo na face rechonchuda, apresentando-lhe o melhor jantar do mundo! E os olhitos do meu irmão, muito azuis, a boiar, completamente inundados, em dois espelhos de água, muito brilhantes, coloriram um grande, grande sorriso: um arco-íris deslumbrante. À primeira garfada, o garotinho radiante, mas sacudido ainda por alguns soluços, exclamou um: este peixe-atum é tão bom, pai!
Aquele "peixe-atum" era, de facto, uma das perninhas do Joãozinho desfiada!



Hamburgueres

Tem tão bom aspecto, não tem? Com a maquilhagem certa tudo fica muito melhor!


1 comentário:

Mona Lisa disse...

Olá Mena

E assim se engana uma criança...

Bjs.