quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Ainda o (des)Acordo Ortográfico...


Aqui fica parte deste artigo!

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No nosso diálogo sobre essa temática, ele finalizou-o dizendo o seguinte – Para mim como linguista é impossível retirar um simples acento só porque sim! E acrescentou – Vou continuar a escrever conforme me ensinaram.

Esta coisa que alguns chamam de acordo ortográfico pode ser analisada em três vertentes – técnica, económica e política.

Em primeiro lugar, quero acreditar na boa-fé dos agentes que promoveram o AO, só assim posso compreender tamanha anormalidade, pois pensaram que removendo um acento, um “c”, um “p” não estariam a fazer grande mal, pois só representava 1,4% das alterações. Partiu-se do princípio que a língua portuguesa não forma um sistema, é uma espécie de uma coisa descartável que possuí apêndices supérfluos, e que praticamente tudo pode ser manipulado ao livre arbítrio das vontades e continuará a funcionar na perfeição. Para exemplificar, é como construir um edifício, não respeitando as normas do projecto, vai-se adicionando ou eliminando elementos ao seu gosto, e com o tempo verificar-se-à que quando finalizado não terá as características nem a finalidade previamente concebidas.

Há imensos exemplos sobre esta barbaridade linguística e aconselho vivamente a quem tem dois dedos de testa a ler e a ouvir as opiniões da professora Maria do Carmo Vieira que são esclarecedoras quanto ao imediato e quanto ao futuro da língua.

Apenas quero frisar um exemplo em que sou várias vezes oprimido na minha visão, nomeadamente quando a televisão pública que tem o desplante de projectar algumas maldades. Será que “espectador” tem o mesmo significado que “espetador”?

Interrogo-me se estou a ver um programa televisivo ou se querem espetar-me algo. É claramente uma incongruência absurda, pois o simples facto da remoção de uma humilde letra faz destoar por completo o sentido da palavra. E só mais um exemplo do grotesco a que chegamos: há semanas o jornal Expresso, um dos poucos jornais de referência que aderiu a esta moda anacrónica, muito possivelmente por razões de interesse económico e das parcerias do grupo Impresa que tem no Brasil, tinha como título de uma notícia o seguinte “Assage para a máquina”. Depreende-se que o fundador do Wikileaks vai para uma máquina, um movimento activo, mas não, o verdadeiro sentido da frase é precisamente o contrário, a forma passiva, de interrupção da acção. É extraordinário como a simples omissão de um acento desvirtua a construção de uma frase, e afinal o Timo Riiho tinha toda a razão.

Em conclusão, do ponto vista técnico o AO não tem ponta que se lhe pegue e, a longo prazo, a fonética vai-se transformando, pois não é a mesma coisa ler “directo” e “direto” porque é uma falsa sílaba muda. Cegos, surdos e mudos foram aqueles que inventaram esta “coisa”.

Bruno Caldeira

2 comentários:

Nilson Barcelli disse...

Confesso que me fazem confusão algumas das alterações.
E, para já (não "pára já"...), continuo a escrever como aprendi na escola primária...
Querida amiga Mena, tem um excelente 2012.
Beijos.

Rita disse...

Pois, a quem o dizes!