sábado, 11 de fevereiro de 2012

Alberto Caeiro


Alberto Caeiro - "o Mestre", "o pastor por metáfora"

  • Nasce em Lisboa, a 16 de Abril de 1899.
  • Órfão de pai e mãe, herda uma pequena quantia de uma tia, o que lhe permite mudar-se para o campo, onde vive até morrer.
  • De estatura média e frágil, louro, de olhos azuis, tem apenas a quarta classe, nunca tendo exercido nenhuma profissão.
  • Morre em 1915, tuberculoso.
Caeiro representa a antítese de Fernando Pessoa ortónimo, o "remédio" par a sua ansiedade e para a sua angústia perante o mistério da existência, inacessível ao Homem. Para este heterónimo, a única via para atingir a felicidade é não pensar, é recusar a essência, para acreditar que apenas existe a aparência. Ele nega a dicotomia platónica, herdada pela cultura ocidental, segundo a qual o fenómeno (aquilo que os seres humanos podem percepcionar através dos sentidos) é uma cópia de um mundo que o Homem não pode captar (o mundo da Essência). Alberto Caeiro propõe uma "desculturalização", na medida em que nega a visão da realidade, sujeita à anaálise do pensamento, defendendo que existir é, afinal, estar de acordo com as leis naturais. Assim, afirma que "Há metafísica bastante em não pensar em nada" e que "Pensar no sentido íntimo das cousas / é como (...) pensar na saúde / Ou levar um copo à água das fontes".
Ele é um estóico e um epicurista, porque não deseja nada, a não ser inserir-se no todo cosmogónico, aquilo que, efectivamente, lhe dará felicidade.

"Bendito seja o mesmo sol de outras terras
Que faz meus irmãos todos os homens
Porque todos os homens, um momento no dia, o olham como eu,
E nesse puro momento
Todo limpo e sensível
Regressam lacrimosamente
E com um suspiro que mal sentem
Ao homem verdadeiro e primitivo
Que via o Sol nascer e ainda o não adorava.
Porque isso é natural – mais natural
Que adorar o ouro e Deus
E a arte e a moral..."

Alberto Caeiro representa a tranquilidade que o seu criador nunca conseguiu encontrar e que
exprimiu ao constatar o paradoxo do universo:

(...) O Universo não concorda consigo próprio porque
passa. A vida não concorda consigo própria, porque
morre. O paradoxo é a forma típica da Natureza.
Por isso, toda a verdade tem uma forma (...) paradoxal (...)

Caeiro, o mestre reconhecido pelo seu próprio criador, responde:

"O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja..."

Fernando Pessoa afirma que a originalidade de Caeiro, " a sua objectividade quase inconcebível" consiste no facto de este heterónimo percepcionar a realidade através do olhar, sem proceder à intelectualização dessa percepção. A poesia de Caeiro é, assim, uma poesia sensacionista, na medida em que o poeta substitui pensamento (que associa a uma doença) e sentimento (subjectivo ou convencional) por sensação. A subjectividade não existe para este heterónimo pessoano. As suas sensações são colhidas no exterior objectivo. É o seu sensacionismo que, segundo Pessoa, faz dele um poeta pagão e lhe proporciona o reencontro com a Natureza.


Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
E espreita para o calor dos campos com a cara toda,
Às vezes, de repente, bate-me a Natureza de chapa
Na cara dos meus sentidos,
E eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
Não sei bem como nem o quê...

Mas quem me mandou a mim querer perceber?
Quem me disse que havia que perceber?

Quando o Verão me passa pela cara
A mão leve e quente da sua brisa,
Só tenho que sentir agrado porque é brisa
Ou que sentir desagrado porque é quente,
E de qualquer maneira que eu o sinta,
Assim, porque assim o sinto, é que é meu dever senti-lo...

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